Sobre a África
Dedicamos este espaço para o compartilhamento de informações tocantes à realidade do continente africano. Além disso, buscamos sempre diversificar as fontes para que você tenha acesso a diferentes perspectivas sobre o assunto.
Por que África?
Muitas pessoas nos perguntam por que optamos por oferecer ajuda na África. Esse tipo de questionamento é natural, afinal o nosso próprio Brasil é um país repleto de desigualdades, onde milhões vivem em pobreza extrema. No entanto, é importante destacar que em se tratando de pobreza e miséria, a situação é proporcionalmente incomparável. Observe o gráfico abaixo que enumera os 10 países africanos com maior população em extrema pobreza:
Observa-se que a população do Sudão do Sul em pobreza extrema chega a 11,4 milhões, quando no total são 12,6 milhões de habitantes no país. Isso significa que 90% dos sul sudaneses vivem em condição de pobreza extrema. A título de comparação, num Brasil onde somos 200 milhões de habitantes, há um total de 15 milhões em pobreza extrema (7,5%). Mesmo no Maranhão, que é o estado brasileiro em piores condições em se tratando desses aspectos, os números são distantes do Sudão do Sul: são 6,85 milhões de maranhenses, sendo que 1,2 milhões em pobreza extrema (18%).
Segundo o Banco Mundial, pobreza extrema é viver com menos de U$1,25 por dia¹. Essa condição atinge 635 milhões de pessoas no mundo, estando 68% delas (430 milhões) no continente africano.
Resumidamente, o gráfico acima apresenta 43% de toda a população mundial em extrema pobreza em apenas 10 países africanos.
Mesmo assim, é importante ressaltar que o África Abantu não pretende de modo algum virar as costas ao Brasil ou a qualquer outro país. Iniciamos nossas atividades na África, pois foi de lá que sentimos esse chamado. Mas as nossas intenções não têm nacionalidade, nem cor, e nem distinção. O mundo é um só, e estamos dispostos a levar o nosso apoio sempre que possível.
O que diz o Banco Mundial?
Ainda no que se refere a dados e informações referentes a extrema pobreza, trazemos informações bastante relevantes. Se o que foi dito anteriormente não for suficiente, sugerimos que observe a figura 1.3, extraída do relatório "Poverty and Shared Prosperity 2018" do Banco Mundial, uma das agências das Nações Unidas.
Problemas e desafios no continente
Segundo o relatório, em 1990 a região que concentrava maior população em extrema pobreza no mundo eram o leste da Ásia e a região do Pacífico. A partir de 2002, a concentração maior passou a ser a parte sul da Ásia. No entanto, o crescimento econômico da China, refletiu diretamente nos países vizinhos e isso significou uma grande redução nos índices de pobreza extrema na região.
A partir de 2010, a África Subsaariana assumiu o "protagonismo" no que se refere a índices de pobreza. África e Oriente Médio, juntos, apresentam 84% da população mundial que vive em pobreza extrema e, segundo as projeções apresentadas no relatório, até 2030 a África Subsaariana abrigará 87% da população em pobreza extrema do mundo.
Fonte:

Vale destacar que a pobreza não é uma exclusividade. Há muitos outros problemas e desafios enfrentados em grande parte das regiões e países do continente africano. E, em frações muito menores, claro que também há riqueza, geralmente nas grandes metrópoles. Por trás de grande parte dos problemas e desafios enfrentas no continente existem muitas histórias (que chegam incompletas até nós) repletas de dificuldades e dor.
A partilha da África, acordada por meio da Conferência de Berlim, foi um grande marco negativo para muito do que sabemos. Desde conflitos entre povos e etnias por territórios ou diferenças religiosas, lutas e guerras pela independência, crianças soldado, corrupção, exploração ilegal dos conhecidos diamantes de sangue entre outros minérios (como o cobalto mais recentemente), conflitos internos, refúgio e migrações, doenças, escassez de água e alimento. É um verdadeiro conjunto de problemas, e muitos deles assolam de uma só vez uma única região ou país.

Refúgio e migrações
Os últimos dados disponibilizados em Relatório pelo ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), referentes ao ano de 2017, informam um aumento da população refugiada em 2,9 milhões de pessoas, atingindo um número de 68,5 milhões de pessoas deslocadas pelo mundo atualmente, sendo que 25,4 milhões se enquadram na condição de refugiadas².
Em se tratando de África, os casos mais críticos são:
1) Congo: 5.1 milhões,
2) Sudão do Sul: 4.4 milhões,
3) Somália: 3.2 milhões,
4) Sudão: 2.7 milhões.
Vale lembrar ainda que 52% da população de deslocados em nível mundial são crianças, ou seja, mais de 30 milhões.
Além disso, a África Subsaariana abriga hoje 31% da população global de deslocados.
Fonte:
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Diamantes de sangue
As minas de diamante africanas são origem de aproximadamente 65% dos diamantes do mundo³, e é de lá que sai grande parte daqueles que estarão expostos em fartas salas de vendas de varejistas de joias de alta qualidade em todo o mundo. Mesmo após o processo de Kimberley, a exploração dessas pedras permanece financiando guerras e conflitos armados, além de um mercado apoiado em milhares de mortes e escravidão. U$ 1 por dia é o valor médio da remuneração dos mineradores nessas zonas, o que garante a eles alimentação e praticamente nada mais³.
Cobalto e mais conflitos
Diante de um mercado global cada vez mais acirrado no ramo tecnológico, o cobalto vem se tornando um minério extremamente valioso, principalmente entre os grandes produtores de smartphones. A valorização desse minério chega a 300% nos últimos 2 anos, e a maior reserva de cobalto do planeta - com 49,3% de toda oferta mundial - se encontra na República Democrática do Congo (RDC). Porém, mais uma vez, o país sofre por conta de suas grandes riquezas minerais. São aproximadamente 255 mil escavadores, sendo que por volta de 35 mil são crianças⁴, todos sob um regime de escravidão moderna. A razão de tudo disso é que alguns países vizinhos como Ruanda e Uganda, financiados por grandes potências (entre elas os Estados Unidos), exploram esse mercado por meio do contrabando do minério para o seu território atraves dos grupos rebeldes existentes na região leste da RDC. Desse modo, se torna possível a exportação do minério para países que utilizam o cobalto na produção de smartphones, por exemplo. É uma situação de informalidade bastante similar ao caso da exploração de diamantes em Serra Leoa e do contrabando dessa riqueza para a Libéria. Apesar de a Libéria não ter grandes reservas de diamantes, se destacava mundialmente como grande exportadora desse minério durante os conflitos sangrentos em Serra Leoa e o contrabando para o território liberiano.
Referências textuais:
¹Relatório do Banco Mundial - "Poverty and shared prosperity 2018".
²https://www.unhcr.org/globaltrends2017/
³http://time.com/blood-diamonds
⁴https://www.theguardian.com/global-development/2018/oct/12/phone-misery-children-congo-cobalt-mines-drc
https://fortune.com/longform/blood-sweat-and-batteries/
Artigos científicos*:
MABEKO-TALI, Jean-Michel. Considerations about colonial despotism, centralized management and violence in french colonial Empire.
FREITAS, Jeane Silva de e LACERDA, Jan Marcel de Almeida Freitas. A mediação facilitadora das organizações internacionais na resolução de conflitos: Uma análise da atuação da ONU e a da UA no conflito entre o Sudão e o Sudão do Sul.
SANTOS, Eduardo Gomes dos. The kimberley process certification system - KPCS and diamond production changes in selected African countries and Brazil.
Livros*:
Coleção "História Geral da África" - Volume VII - África sob dominação colonial.
Coleção "História Geral da África" - Volume VIII - África desde 1935.
*Fontes de pesquisa sem citação direta no texto.